terça-feira, 7 de julho de 2009

Versos Intimos

Augusto dos Anjos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884. Seu pai era bacharel em letras, e lhe ensinou as primeiras palavras depois formou-se advogado porem nunca exerceu a profissão, dedicou-se a dar aulas de português e escrever sonetos e poesias.
Sempre na linha parnasiana, dos Anjos era um poeta do tipo dos que eu gosto, romântico e realista.

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